20 de setembro de 2012

Manhã de domingo

   Aconteceu de acordarmos na mesma cama, na verdade quando despertei, ele ainda sonhava como anjo. Estava com os braços nus e os olhos bem apertados como os botões recém pregados na blusa. As cortinas revoavam sobre o quarto com a janela semi-aberta, deixando inundar - entre as quatro paredes onde estávamos confinados - o perfume suave de jasmim, daquele jardim ao qual tantas vezes cultivei. Desenhei por alguns instantes em devaneios todos os risos que na noite anterior aquela voz corpulenta me provocou; os dedos firmes, porém, suaves que arrumavam o meu cabelo atrás das orelhas e as beijavam dizendo ser tudo de uma perfeita simetria anatômica. Senti vontade de acordá-lo somente para lhe ver sorrir com seus largos dentes brancos, mas ao mesmo tempo queria lhe fazer perder à hora e continuar ali, estático ao meu lado só para ter-lo comigo.
   Em se tratar do tempo, o relógio da cabeceira apontava com seus ponteiros finos, nove horas da manhã de um domingo. E o que se espera de uma manhã de domingo? O que se espera de todas as manhãs de domingo? Nada, exatamente nada. Contudo, passamos a amar estas manhãs quando encontramos um pé para esquentar o nosso próprio pé frio, antes solitário. E a cama deixa de ser grande demais, espaçosa ao ponto de cinco travesseiros não a preencher, para se tornar um tamanho ideal.
   Os raios de sol que levemente beijavam seus lábios foram aos poucos o fazendo despertar, e naquele instante todas as borboletas se remexeram dentro de mim, o coração por duas vezes saudou a garganta e novamente acomodou no espaço de origem; meus olhos, eles se tornaram covardes e se fecharam me fazendo parecer ainda estar no profundo dos sonos. Ele levantou, e eu fui aos poucos o sentindo mais longe, com a vontade de lhe gritar pedindo que não se levantasse, mas tive medo. Medo que ele houvesse se arrependido, achando tudo um engano, um erro. Continuei deitada, absorta de mim mesma, esperando o barulho das chaves na porta rodarem, ouvir o motor do carro de mim se despedir.
   Conquanto, cerca de 15 minutos que duraram uma eternidade, por baixo da porta as sombras de seus pés apontavam novamente minha felicidade clandestina. Desta vez, meus olhos se fecharam de prazer e sossego. Aos poucos aqueles cheiros de hálito fresco misturado com o de café amargo se acomodaram do meu lado. Senti um beijo molhado na testa e entendi que aquela era a hora de abrir os olhos. O que vi: ele sorrindo com um riso amarelo e dois copos de café amargo na mão.

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